O uso da carne é possível?

                   

 

O uso da carne é possível?

 

 

 

 

                   Apesar de a maioria da humanidade utilizar o alimento como um instrumento de prazer, a função básica da comida é nutrir o corpo e garantir o seu adequado funcionamento. Em virtude da mentalidade materialista, consumista e hedonista preponderante, o uso do alimento foi desvirtuado e beira as raias do absurdo.

            O uso indiscriminado e inapropriado dos alimentos levou ao aparecimento de inúmeras doenças e a humanidade passou a viver um dos períodos mais críticos da sua história. Existe a perspectiva de que a nova geração seja a primeira a ter uma expectativa de vida menor do que a dos seus pais.

            Apesar da grande quantidade de informação atualmente existente, a maior parte desse material é propaganda disfarçada de conhecimento científico. Mesmo que provenha de fontes aparentemente confiáveis, a maior parte da informação é falsa e carente de bons estudos científicos. Grandes corporações lucram muito com atual estado de ignorância coletiva e não estão interessadas com a mudança do sistema.

            De uma forma geral, não basta ter acesso ao conhecimento, porque é preciso selecioná-lo através do uso da discriminação. Além disso, ele precisa estar atrelado à virtude, porque se ele estiver dissociado dela, ele não vai agregar valores à sociedade. Toda informação também precisa estar inserida em um contexto, toda ela precisa ser abordada levando em consideração as demais partes do sistema.

            Como exemplo, pode-se citar a recomendação do uso de uma porção diária de carne (o que significa 100g aproximadamente). É preciso analisar se toda a humanidade é capaz de praticar essa recomendação diante das atuais condições existentes. Deve-se avaliar quais as repercussões ambientais dessa conduta alimentar, quais as repercussões econômicas e quais as repercussões sociais.

O Guia Alimentar para a População Brasileira (2008) recomenda o consumo de 1 porção de carnes, peixes ou ovos por dia

Segundo informações contidas no site pecuária.com.br, o rebanho bovino mundial em 2011 era constituído por 1,01 bilhão de animais. Se toda a população mundial (7 bilhões de pessoas), excetuando-se as crianças menores de 2 anos e outras pessoas que não consomem carne, consumisse uma porção de carne bovina todos os dias (100g por pessoa), todo o rebanho bovino seria dizimado em cerca de 1 ano (ver Quadro 1).

Rebanho bovino mundial em 2011 = 1,01 bilhão de animais

Quadro 1 – Cálculo do número de animais abatidos de acordo com o consumo de carne

7 bilhões – 10% = 6 bilhões e 300 milhões de pessoas consumindo 100g de carne vermelha cada uma = 630 milhões de kilos por dia ÷ 180kg (= peso da carne comestível de 1 animal) = 3,5 milhões de animais por dia X 365 dias ao ano = 1,277 bilhão de animais ao ano

Fonte: O dado referente ao peso da carne comestível foi baseado em informações fornecidas por André Mendes Jorge, zootecnista da UNESP.

             

Nota-se claramente que essa recomendação não é numericamente viável. Pode-se alegar que aqueles que comem carne não utilizam carne vermelha todos os dias, mas a recomendação sobre o consumo de carne não deixa claro que o consumo de carne deva ser realizado de forma alternada ou que a carne vermelha não deva ser consumida todos os dias. Na verdade, se todos fizessem o que a recomendação sugere, seria criado um colapso ambiental.

Mesmo que a carne vermelha fosse consumida apenas 3 vezes por semana pelos 6,3 bilhão de pessoas, seriam necessários o abate de 547 milhões de animais ao ano, o que também levaria ao colapso do sistema

           

 Do ponto de vista econômico e social, é interessante que a população faça um uso tão intenso da carne? Quantos trabalhadores são necessários para atuar na pecuária? Qual o ramo de atividade que gera mais empregos? A pecuária ou a agricultura orgânica familiar? Essas questões precisam ser levadas em consideração quando se decide por um modelo de alimentação onívoro, um modelo que recomenda o uso de 100g de carne por dia.

           

 Fazer uma recomendação sem levar em conta todas essas repercussões ambientais, econômicas e sociais é algo no mínimo incoerente.

            Percebe-se que a alimentação vegetariana não é meramente a escolha daquilo que vai ser colocado no prato, mas uma atitude que está inserida num contexto ampliado, vinculada a questões ambientais, econômicas e sociais.

“Nada beneficiará mais a saúde da humanidade e aumentará as chances de sobrevivência da vida na Terra quanto a dieta vegetariana.” Albert Einstein

REFERÊNCIAS

BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE. Guia Alimentar para a População Brasileira: promovendo a Alimentação Saudável. Brasília: Ministério da Saúde, 2008. Disponível em: < http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_alimentar_populacao_brasileira_2008.pdf>. Acesso em 04 out. 2013.

JORGE, A. M. Abate e Rendimento de Carcaça. . Disponível em: <http://www.fmvz.unesp.br/andrejorge/Av_Tipif_Carcaca/AULA-%5B03%5DAbate_e_Rendimento_Carcaca.pdf>. Acesso em 28 Dez 2013.

PECUARIA.COM.BR. Rebanho bovino tem queda de 5% no mundo. Disponível em: < http://www.pecuaria.com.br/info.php?ver=11860>. Acesso em 28 Dez 2013.